The Shadow Hunter

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quinta-feira, 10 de maio de 2012

"The Avengers Initiative" - O que os super-heróis teriam a ver com a paixão?



Por que os super-heróis fascinam tantas pessoas? Seria pelo poder sobre-humano e liberdades consequentes, ou pela chance de fazer a diferença para o mundo e respectiva glória. Quando alguém senta na poltrona do cinema para assistir a “Os Vingadores” da Marvel Studios, o que realmente lhe entretém?
O que instiga mais em um filme são as perguntas que este mesmo leva o espectador a se fazer. Quando há um herói explícito, como no exemplo dado, a primeira pergunta que vem em mente, às vezes sem que se perceba, é “o que eu, quem assiste, faria nessas situações apresentadas se fosse esse super-herói?.” O que você faria se fosse o “semideus Thor”; ou o “supersoldado ressuscitado Steave Rogers”; ou o “gênio, bilionário, playboy, filantropo Tony Stark”; ou o “amaldiçoado Dr. Bruce Banner”?
O universo dos heróis instiga muito pelos dilemas que advém do confronto entre poder e responsabilidade. Se você fosse um super-herói, seus problemas atuais não existiriam. Essas dúvidas e conflitos que lhe são difíceis e, ao mesmo tempo, lhe fazem sentir-se mundano, irrelevante, ou até mesmo até egoísta, seriam desprezíveis. Os supervilões que ameaçam o mundo inteiro seriam seu problema prioritário, pois proteger a humanidade estaria acima de você mesmo. Seus conflitos pessoais internos e interpessoais teriam uma desculpa perfeita para serem deixados em segundo plano. Você pode fugir dos seus problemas sem receio de parecer fraco.
Este é o outro lado da história dos super-heróis. Os verdadeiros personagens dessa trama dos “Vingadores” não se confundem com seus “alter-egos”. O personagem do filme não é o “Hulk”, mas Dr. Bruce Banner. Não é o “Homem-de-ferro”, mas Tony Stark. Não é o “Capitão América”, mas Steave Rogers. Não é “Thor” o semideus, mas “Thor” primogênito de uma família tradicional, tendo um irmão caçula desajustado. A história não é sobre como os “supers” brigam e produzem cenas antológicas de efeitos especiais, mas sobre como os humanos por trás deles são seres com problemas mundanos a resolver. O detalhe mais importante é que a própria situação problemática a ser resolvida pelo filme só existe porque o irmão mais novo do semideus resolve “aprontar uma travessura”. Para quem não é familiarizado com histórias em quadrinhos, filmes de super-heróis ou mitologia nórdica, “Loki” é o próprio Deus nórdico da travessura. Ele é tanto o vilão que fez com que os “Vingadores” acontecessem, quanto o animado e querido “Maskara”, interpretado por Jim Carrey em 1994.
http://www.impactonline.co/features/727-avenge-this-tom-hiddleston-and-mark-ruffalo
A questão que fica é “você desejaria ser um super-herói?”. Mais especificamente: “sendo lhe dada essa opção, você escolheria se tornar um?”. Por quê? A depender de sua resposta, se lhe fosse dada a opção, é bem provável que você se tornasse “super”, mas algo bem distante de um herói.
Herói é uma figura arquetípica que reúne em si os atributos necessários para superar de forma excepcional um determinado problema de dimensão épica. Do grego ‘hrvV, pelo latim heros, o termo herói designa originalmente o protagonista de uma obra narrativa ou dramática. Para os Gregos, o herói situa-se na posição intermédia entre os deuses e os homens, sendo, em geral filho de um deus e uma mortal, ou vice-versa. Portanto, o herói tem dimensão semidivina. Variando consoante as épocas, as correntes estético-literárias, os gêneros e subgêneros, o herói é marcado por uma projeção ambígua: por um lado, representa a condição humana, na sua complexidade psicológica, social e ética; por outro, transcende a mesma condição, na medida em que representa facetas e virtudes que o homem comum não consegue mas gostaria de atingir – fé, coragem, força de vontade, determinação, paciência, etc. O heroísmo que resulta em autossacrifício chama-se martírio. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Her%C3%B3i)
O mártir é o herói que morre para que o problema seja resolvido. No filme “Os Vingadores” há um desses, mas que não se deixem “spoilers”. Só uma dica, ele não é um dos principais. Ser herói significa sofrer, arriscar-se até o limite de se tornar o mártir. Quanto mais perto do autossacrifício, mais se é heroico. Então, se superpoderes lhe fazem fugir dos seus próprios problemas, ao invés de enfrentá-los, tomar decisões, errar bastante antes de acertar, sofrer as consequências dos erros e até dos acertos, o quanto eles não lhe distanciariam de fato do heroísmo original?
O “Drama e tragédia” são invenções gregas. Originalmente o primeiro significava apenas “ação”, num sentido próximo de representação teatral. O segundo seria uma forma específica desse “Drama” em que o personagem principal, leia-se “o herói”, lida com um conflito com algo que está acima de si mesmo, leia-se “o mundo ou a humanidade”. Essas palavras hoje ganharam muitas conotações diferentes. O interesse de expor estas raízes etimológicas está em demonstrar como o pensamento de todo o mundo atual, principalmente no lado ocidental, foi influenciado por esses conceitos.
O sofrimento do herói é inalienável. Um indivíduo tem a opção de deixá-lo, mas se o fizer perde a condição sine qua non para ser “herói”. Em outras palavras, uma pessoa precisa aceitar a paixão, o sofrimento, para agir com heroísmo. Tudo que se sofre tem origens em “desejos” que não podem ser atendidos ao menos de imediato. Conforme a postagem antiga deste blog “O abismo entre a sede e o copo d’água”, o desejo decorre de um vazio interior, esse sujeito que demanda aquilo que um, ou “o”, objeto de desejo pode suprir. Este vazio teria o nome de “necessidade”. A questão do “querer” é sempre a mais relevante, pois nela encontra-se a faculdade, o poder de escolha, sobre o objeto de desejo.   Ora, se só existir um objeto de desejo possível, como dar nome à esse tipo de necessidade? O termo mais propício seria "paixão", pois não se pode querer outro objeto em seu lugar, ou abdicar dele de vez, sem perder ou a  vida, ou a própria noção de quem se é. Neste ponto é que “paixão” e “herói” caminham juntos. Isto, pelo menos nesta lógica no mínimo pretensiosa, mas autenticamente oferecida para entreter antes de informar, estando longe de pretender ensinar alguma coisa. As perguntas são mais importantes que as respostas, como Confúcio diria.
Quando você tem uma paixão, você sabe o que quer. No momento em que você nasceu, seus pulmões estavam colados. A taxa de oxigenação do seu sangue caia a cada segundo e o que eram nove meses de conforto e relaxamento dentro de uma bolsa de água morna tornou-se um momento de absoluta agonia. A reação natural para a qual o seu corpo foi programado por instinto para o instante em que você entra no desespero da hipoxia é um espasmo severo do seu músculo diafragma. Você então inspirou o ar agressivamente para os seus dois pacotes de alvéolos grudados. Entre o sofrimento agonizante do sufocamento e a dor incomensurável de carne descolando de carne dentro do seu próprio peito, seu instinto lhe fez escolher sentir doer... E muito!!! O ar, este com que você nunca houvera tido contato até então, este que lhe fez sentir frio assim que deixou o corpo de sua mãe, passou a ser em menos de vinte segundos do seu nascimento o seu objeto de desejo imprescindível. Para este não há alternativas ou abstenções. Você o quer mais que tudo! Eis a sua primeira e verdadeira paixão. 

Será que todos nós não somos, desde que nascemos, heróis? 

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