The Shadow Hunter

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Keep it Simple

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Você preferiria morrer de paixão, ou viver sem propósito?

Paixão é sentimento. Amor é valor. 

A paixão é a dor que cria imperativamente o desejo de obter a experiência da beleza advinda do objeto a que se tem conexão. Fala-se paixão quando se quer dar categoria taxativa a desejo, de forma que este seja insubstituível e impossível de ser evitado. 

Amor, por outro lado é um valor, algo que existe para guiar a decisões de forma autônoma, ou seja, não apenas reativa aos instintos primitivos. A distinção deste para qualquer outro valor é o fato de ser a virtude altruísta por excelência. Em outras palavras, aquele que assume amor como sua virtude age em função do outro, pelo bem do outro, não para satisfazer o próprio desejo. Um ato por amor é aquele de quem abre mão de atender a si mesmo em determinado momento, para atender ao outro. 

Diz-se que um ato é puro de intenção quando este é feito puramente por valor. Isto somente é possível quando há o alinhamento entre o efeito a ser produzido e o desejo a montante. Há uma corrente muito forte de estudiosos que entende como sendo o "amor materno" o único provido de pureza de intenção, ou seja, o polêmico "amor incondicional". Esta alusão é totalmente coerente, pois o instinto materno está diretamente associado à prole. Isto alinha a decisão por instinto à decisão por valor, tornando-as a mesma consequentemente. 

Pode-se dizer que o desejo de uma pessoa ver outra feliz pode ser uma paixão. Quanto mais conectada e imersa em empatia ela estiver, mais ela estará apaixonada. Seu instinto a guiará, então, para buscar em desespero por provocar felicidade na outra. Há duas incongruências insanáveis nesta condição: 

  • Uma é se estar vinculando de forma dependente estado, atitude, humor do outro ao próprio. Consequentemente, quem age assim transfere a responsabilidade de como se sente a um sujeito externo, tornando-se impotente. As consequências são o comportamento de vitimização e a experiência de desamparo adquirido. 
  • Outra é justamente o paradoxo do hedonismo, mas com o agravante de buscar a felicidade diretamente para um sujeito externo. O conceito deste paradoxo resume-se a afirmativa de que não é eficaz se buscar felicidade diretamente, mas apenas criar condições para que esta se estabeleça. Consequentemente, esta ação de "buscar a felicidade do outro apaixonadamente" está fadada ao insucesso.
Não há nada de errado em "desejar ver o outro feliz", mas apenas na eficácia das decisões que se toma. Tampouco há algo de errado em se estar apaixonado, por mais dolorida que esta condição seja. Negar e evitar as experiências que despertam paixões na vida em princípio parece ser prudente, mas na prática é a pior das decisões. Isto apenas cria uma ilusão de invulnerabilidade e afasta não somente as emoções, mas o próprio senso de propósito do ser humano. Pode-se dizer que há hoje uma espécie de "epidemia desta doença", pois a falta de senso de propósito se reflete nas estatísticas apontando a atual sociedade como a mais obesa, endividada, viciada e medicada de todos os tempos. É inquestionável ser preferível morrer de paixão, que viver sem propósito. 

Como decidir por valor, sem negar as próprias paixões? 

A resposta começa com uma prática para se tornar emocionalmente tenaz. Deve-se "aprender a perder". Como quem perde experimenta vergonha, pode-se dizer que quem aprendeu a perder é resiliente a isso. Em outras palavras, aprende-se ser capaz de viver a experiência de se sentir envergonhado e não somente não se desesperar, mas retornar ao equilíbrio o mais depressa possível. 

A mesma pessoa apaixonadamente desejando ver a outra feliz, conforme caso acima, agiria de forma bem diferente sendo tenaz e consciente de sua condição. Ela não procuraria "resolver o problema do outro", mas ficaria atenta a ele de forma a encontrar formas de contribuir imperceptivelmente. Ela não nega a si mesma o desejo de ver o outro feliz, mas tampouco transfere a este a responsabilidade por como se sente. Ela pauta suas ações em uma estratégia voltada para tornar o outro autônomo em sua capacidade de ser feliz. Ela está disposta a perder, pois quem decide o que fazer e quando fazer sobre como se sente é seu objeto nesta situação. Ela não o pode fazer feliz, mas pode contribuir para que seja mais competente em se fazer feliz quando desejar. Ela não escolhe por ele, privando-o de sua autonomia. Ela o desafia, mas apenas no limite de sua capacidade. Ela age a montante do resultado que pretende, para que as condições permitam que o efeito advenha espontaneamente. 

O mais importante de tudo é que ela se sente serena e satisfeita, mesmo que não veja um sorriso no rosto do objeto de sua paixão. Ela se sente assim pois sabe que está sendo efetiva. Sabe que suas ações conduzem a realidade inevitavelmente a um desfecho em que ela, sem precisar agir, verá a beleza da felicidade espontânea lhe surpreender.



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