The Shadow Hunter

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Keep it Simple

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A eficácia além do mito


O que seria a eficácia plena? Esta pergunta feita desta maneira deixa espaço para inúmeras interpretações. Plenitude está mais para uma sensação, que para um conceito em si. Para delimitar o espaço para abstrações, que se comece pelo simples: que a eficácia em si seja entendida como o simples alcance de um objetivo por hora. O esforço, os recursos empregados, o preço, todos estes ficam à parte. Ficarão ligados aqui apenas ao conceito de eficiênca. Porém, há um limite em que se pode separar na prática o eficiente do eficaz. Não há muito o que argumentar contra a idéia de que nada pode ser um objetivo válido a qualquer preço. 

A flexibilidade da palavra "plenitude" pode ser bastante útil quando se quer definir um resultado cuja eficácia seja extraordinária. O que poderia ir além de se atingir um objetivo? Quem sabe produzir um resultado desejado com um esforço mínimo não seria a primeira linha de raciocínio? A maneira mais eficiente de se fazer algo seria, então, a escolha mais apropriada entre as possibilidades de produzir um efeito. O revés desso é que há uma enorme precariedade em se definir um conceito de uma maneira tão relativa assim. 

Existe uma ação que se pode tomar no momento presente que não produz efeitos diretamente ligados a um resultado desejado. Seria um tipo de movimento que modifica as condições da situação ou ambiente em questão de maneira sutil, criando uma propensão para que o próprio processo natural crie o efeito desejado por si mesmo. Isso sim pode receber o nome de "ação de eficácia plena". 

Os requisitos necessários para que uma ação seja classificada desta maneira seriam:
  1. A alteração do ambiente ao invés do objeto;
  2. O efeito realizado a montante, isto é, produzir resultado apenas no futuro;
  3. A não possibilidade de se fazer a conexão do autor ao efeito.
O general Sun Tzu em seu tratado sobre estratégia divulgado no ocidente pelo nome de "A Arte da Guerra" menciona a máxima de que "o mérito grande não se anuncia". O nome original do tratado é "os treze momentos do mestre Sun". O livro foi concebido como um manual prático para quem fosse exercer a função de general. Os "momentos" na realidade são como capítulos. Esta máxima em si está posicionada no quarto momento, mas nunca foi escrita pelo autor diretamente. Ela é apenas uma conclusão simples escrita em várias versões traduzidas da obra para tornar mais clara a comunicação do conceito. Este capítulo diz respeito ao "plano tático" e a explicação feita através de ilustrações conceitua especificamente este tipo de eficácia aqui sendo chamada de plena. 

O mestre ilustra situações em que pessoas normalmente são reconhecidas pelo esforço, pela coragem e outros atributos gloriosos. Ele explica que o general que possui verdadeiro mérito, ou seja, aquele cujas ações são verdadeiramente eficazes certifica-se antecipadamente de que não há possibilidades de ser derrotado antes de ir para a batalha, prepara-se em todos os níveis, conhece todos os pontos fracos do inimigo. A conclusão que ele chega é de que este general será sempre percebido como alguém que somente trava batalhas fáceis, que não dependem de nenhum desses atributos reconhecíveis. Sun Tzu afirma que poucos são os que conseguem perceber a verdadeira competência deste militar, pois "seu mérito não se anuncia". 

A guerra serve como uma boa ilustração para explicar a eficácia plena, porém há outras formas de fazê-lo. Segundo esta lógica, a pessoa mais importante de uma fotografia é aquela que não aparece na imagem, pois está segurando a câmera. Muita gente certamente vai começar a pensar nisso quando for pedir ao garçon para tirar a foto da turma na comemoração com os amigos. Parece que as gorjetas vão aumetar... A esta alura já deve ter quem esteja argumentando que es câmeras de hoje possuem "timer". A réplica é: isso não muda nada além do fato de que o fotógrafo arranjou um jeito de aparecer, mas ninguém além dos que estavam presentes sabe quem ele é ainda. 

Os monges chineses têm por finalidade maior desenvolverem-se no processo de raciocínio de se agir em prol desta maneira de ser eficaz. Eles são reconhecidos por praticarem e criarem artes marciais. Um monge lutando pode parecer incoerente a princípio, mas elas entram na mistura tanto pelo objetivo de desenvolver eficácia plena, quanto como maneira de estudar os conflitos humanos pelo ponto de vista da forma mais primitiva de comunicação: o combate físico. A prática dos monges no que diz respeito à eficácia nada mais é do que "pensamento estratégico". Escolhe-se um ação que produzirá um efeito que seja meio, não finalidade. A capacidade de se escolher este objetivo "tático" com eficácia é a definição desta maneira de pensar estrategicamente. 

Lendo isto até aqui é bem provável que se fique com a sensação de que não há por que não buscar se desenvolver nesta competência. Parecem não haver revezes. Em termos de produzir resultados sem dúvidas não há o que se discutir, mas em um mundo em que o valor percebido é a medida da recompensa, é preciso se tomar muito cuidado. Sem dúvidas não há que se falar em abrir mão desta conduta, mas não se pode ignorar a necessidade de se criar uma imagem conveniente.  Uma opinião a colocar é de que o valor desta deveria transmitir sempre um estatus abaixo do limite da própria capacidade. Isto pode parecer estranho, pois é menos lucrativo que seu potencial. Porém, não passa de fazer ser percebido como um artista, ou solucionador de problemas que tem muita sorte. Na realidade, a pessoa cuidou de tudo, planejou, praticou, aprendeu e, na hora, tudo aconteceu para os espectadores como um passe de mágica! 

Então...

Por que não simplesmente "vender" exatamente o que se fez? 

Eis o "pulo do gato"! Porque para o "gênio" estratégico não há esforço considerável, apenas efeito. Explicar significa literalmente apenas demonstrar como as coisas aconteceram sozinhas. Se o autor nada fez, pelo que ele deveria ser recompensado? Internamente é possível saber que sem ele "a fotografia não teria acontecido", mas esta útima pergunta é o que 99% das pessoas faria. Isso significa que não faz sentido algum desejar glória por uma eficácia plena. 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O Espetacular de Neil Pasricha

Neil Parisha é conta um pouco de sua história neste vídeo. Seus pais são imigrantes da índia que se estabeleceram nos EUA enquanto ele era criança. Ele resumidamente conta que teve uma trajetória das mais comuns. Completou o ensino fundamental, fez faculdade, casou-se, arranjou um emprego. Ele fala sobre sobre uma viagem que fez com seus amigos e do quanto esta foi marcante. Conclui sobre o quanto sua história seria comum e ordináriamente feliz. Então, ele começa a falar sobre  uma virada que sua vida deu e de como isto o levou a um tipo de epifania, resultando na criação de um blog que se tornou um sucesso.

No ano de 2008 seu casamento entrou em crise e um dos seus amigos cometeu suicídio. Ele conta que ficou com muito dificuldade de se sentir bem nesa época, por isso decidiu que de alguma forma precisava exercitar buscar o lado alegre das coisas simples da vida cotidiana. Assim nesceu o blog "1000 coisas espetaculares" (1000awesomethings.com). Ele brinca ao mencionar isso, dizendo que no início ninguém lia o que ele postava, mas que com o tempo o tráfego foi aumentando, aumentanto, até atingir dezenas, centenas, milhares, milhões de pessoas. Um dia ele recebeu um telefonema informando que havia recebido um prêmio de melhor blog do ano. Depois disso, agentes lhe contataram para transformar seu conteúdo em livro. O "Livro do Espetacular" (The Book of Awesome) foi bestseller durante muitos meses. 

Neil não conta uma simples história de sucesso. Ele fala sobre a experiência de viver o processo de definir o significado deste constantemente. Os três "A's" do extraordinário a que ele se refere são Atitude, Auto-consciência e Autenticidade. Conflitando essa visão de mundo com as informações que o psicólogo Kevin Dutton escreveu em seu livro “A sabedoria dos psicopatas: o que santos, espiões e serial killers tem a ensinar sobre sucesso”, pode-se chegar a um questionamento curioso sobre o que significa viver em um mundo onde a carreira com mais psicopatas é a de CEO, seguida pela de advocacia e pela de comunicação social (apresentadores de rádio e TV especificamente). 



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Faça as perguntas certas e dirija seu foco.


Existe todo um estudo na área de psicologia sobre o efeito das perguntas sobre a própria mente. A chamada Teoria do Foco Regulatório diz respeito à percepção das pessoas sobre a realidade e o processo de tomada de decisão. O doutor por trás desta linha de pesquisa chama-se Edward Tory Higgins, professor de Psicologia e de Administração na Universidade de Columbia em Nova Iorque. Apesar de haver bastante conteúdo, não é preciso muito esforço para fazer uso dos conceitos por trás desta. 

Perguntas feitas com "O quê" e "Como" criam propensão de ação. As iniciadas com "Por que" e "para que" conectam a intenção à decisão. 

O que será que isso quer dizer? Como isso pode fazer alguma diferença? 

A hipótese testada em pesquisa científica é de que a pergunta que uma pessoa faz a si mesma dirige a própria mente de maneira inconsciente a iniciar um processo de respondê-la. Mesmo que a sensação seguinte ao ato de se auto-questionar seja a de um vazio de pensamentos, o processo mental estará instaurado. As idéias começam a "aparecer" para a pessoa como que sem querer momentos depois. Isso no fundo seria um efeito da parte inconsciente do cérebro estar trabalhando independentemente da vontade consciente, estando apenas estimulada pela pergunta. 

As próprias perguntas feitas logo acima, segundo a teoria, foram colocadas para criar propensão em quem lê a pensar harmonicamente com a proposta desta parte do texto. O termo "propensão de ação" tende a parecer ter um significado abstrato da forma que foi proposto. A pergunta "o quê", feita pelo leitor a si mesmo no ato de lê-la em si, tem intuito de direcionar o próprio seu processo mental a buscar possibilidades de significado. Isso tende a tornar as palavras escritas menos importantes que a própria criatividade e imaginação do receptor da comunicação. Não caberia fazer isto para um artigo científico, claro! Porém, pode servir para tornar a leitura em algo mais que uma mera informação sobre um tema, se possível em uma experiência significativa em si.  

Perguntas servem para dirigir o foco de todo o pensamento. A forma que se pensa cria o estado psicológico que se experimenta. Este, por sua vez, filtra a própria percepção dos eventos na realidade. Se o estado é triste, entediado e dolorido, um copo pela metade estará meio vazio. Se, pelo contrário, o estado é alegre, estimulado e empolgado, um copo cheio pela metade é uma oportunidade para desde de se matar a sêde, até de se fazer poesia! Uma pessoa que se sente entristecida tem um excelente porquê para prestar atenção às perguntas que faz a si mesma e tentar direcionar seu foco. Por outro lado, quando ela determina que quer direcionar o foco para atingir determinado estado, ela tem uma finalidade "para que" está direcionada. 

Quantas vezes não se escuta por aí as pessoas se questionando: "por que isso sempre acontece comigo?"; "por que eu não consigo executar esta tarefa com disciplina?"; "Por que não consigo emagrecer?". Se a pessoa faz uma pergunta à própria mente, ela vai receber uma resposta. Esta é a essência da teoria e, para quem já está pensando em fazer a experiência, da prática também. As respostas para estas perguntas exemplificadas seriam as piores, mas não seriam o problema em si. As próprias perguntas é que provocam os resultados ruins. São extremamente enfraqecedoras. Ao invés de se perguntar "por que não consegue fazer uma tarefa", a pessoa tem a opção de se questionar sobre "como realizá-la". As demais perguntas poderiam ser "como posso evitar que aconteça novamente este resultado ou evento ruim?", ou "como faço para reverter as consequências ou lidar com elas da melhor forma?", "O que posso aprender com esta situação?" etc.

Por outro lado, não há nada de errado intrinsecamente em perguntar por quê? O problema é escolher a conveniência e a oportunidade em que se deve fazer este tipo de pergunta. "Por e "Para" podem parecer a mesma coisa, mas carregam "energias" bastante distintas. O "porquê" determina que a pessoa implicada não tem poder para escolher. Ela está sendo levada, empurrada, à ação por algo externo que a impele. O "Para", por sua vez, conduz à finalidade, ou seja, a pessoa é "seduzida", puxada, pelo próprio interesse. Dito isso, muitos podem estar começando a desejar abolir o "Por" de seus "quês", mas seria uma injustiça sem um justo "porquê"! O "Por" é fortalecedor para encontrar problemas, descobrir falhas, compreender processos e criar a inovação. Sua função é "criar a dúvida", questionar o status quo, quebrar, cindir as certezas. É a pergunta dos filósofos e dos artistas. Ele cria espaço para o aperfeiçoamento, evolução. Ele estimula a cosnciência daquilo que motiva alguém, porém ao fazê-lo esta pessoa estará duvidando dos próprios motivos. Por isso, é um erro questionar-se desta forma no momento próprio para se "colocar a mão na massa".

As coisas mais interessantes a se realizar na vida dependem de estratégia. Realizar tarefas simples não dependem de uma destas, pois são apenas uma ação conduzindo a um resultado desejado. Quando se tem um a missão complexa a realizar, é necessário escolher e priorizar diversos objetivos de forma organizada. Isso é o que significa fazer estratégia. A pergunta que permite a decisão nesse nível é justamente o "Para quê", ou seja, "que finalidade este objetivo estará cumprindo em função da missão como um todo." 

"Rir muito e com frequência; ganhar o respeito de pessoas inteligentes e o afeto de crianças; merecer a consideração de críticos honestos e suportar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza, encontrar o melhor nos outros; deixar o mundo um pouco melhor, seja por uma saudável criança, um canteiro de jardim ou uma redimida condição social, saber que ao menos uma vida respirou mais fácil porque você viveu. Isso é ter tido sucesso." (Ralph Waldo Emerson) 


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Conecte-se e torne-se quem você é.


Há um limite claro entre aquilo que é você e o que não é. Pode parecer um daqueles pensamentos profundos e transcedentais, mas não há nada demais nesta constatação. Oficialmente, você é apenas aquilo que vai do centro do seu corpo à extremidade da sua pele. 
    Você tem acesso relativamente consciente à todas as pertes que estão no seu denominado corpo. Algumas delas você consegue perceber e controlar. Outras, você controla, mas não percebe. Ainda há aquelas que você nem controla, nem percebe. Só por acompanhar este raciocínio, só por imaginar, você já está executando um processo de metacognição. Você está pensando sobre si mesmo e sobre seu próprio pensamento. Essa capacidade é dita como sendo exclusiva do ser humano. O efeito em usá-la resulta na consciência que você tem de ser você mesmo. 
     Nós somos seres complexos. Vamos muito além da mera sensação de se morar sob a pele de um primata humanóide. Temos essa coisa complicada que chamamos "personalidade", munida de milhares de características, traços, idiossincrasias... Essa consciência do que é você e do que não é muito mais complicada que a fronteira demarcada pela sua pele. 
     Imgine-se no meio de uma multidão, só que invisível, inaudível, intocável, ou seja, totalmente imperceptível. Como seria a sua experiência? Você ainda toca o solo com os seus pés. Sente o vento. Ouve os sons dos elementos. Porém, não pode ouvir as pessoas . Pode apenas vê-las. 
     No início, você vai se sentir em um joguo de videogame, curtindo uma realidade virtual e quem sabe até um voyeurismo. Peço para que extenda o tempo para um prazo indefinido: dias e noites consistentemente convivendo, mas sem existir para os outros seres humanos. Você consegue imaginar como seria? 
     Essa sim é uma pergunta difícil. A primeira idéia é adicionar a informação de que a não responsividade das pessoas a você te habituariam a se comportar de determinada forma. Enquanto estivesse no videogame, ainda estaria preso à realidade normal, não a este mundo caótico, sobrenatural, criado para te entreter e intrigar. Depois de alguns dias, quando a novidade passasse, alguma coisa iria te incomodar. Você não saberia o que é, mas seria patente. Sua atenção à cada passo, gesto, palavra de cada pessoa iria se intensificar. Sua mente iria começar se fazer a pergunta de "como dizer a eles que eu estou aqui?". Provavelmente você começaria a orgnizar os objetos e deixar pistas para que eles pudessem concluir que há alguém que não pode ser percebido tentando se comunicar. Você começaria a ficar angustiado, irritado e teria crises de asiedade por algum tempo. Depois estas crises passariam e você então começaria a se divertir imitando cada pessoa. Faria isso por muito tempo. Aprenderia a imitar cada vez melhor, modelando-as. Comporia um acervo em sua mente de todo o tipo de mania, gesto, movimento, idiossincrasia que pudesse reproduzir. A esta altura você deve estar se perguntando por que faria isso. A resposta é simples: seria a forma mais eficaz que encontraria de obter a sensação de que está se comunicando. Você estaria apenas tentando ver o mundo pelos olhos das pessoa que não te percebem, tentando agir como elas, ver como elas, compreender como se sentem e o que expeimentam. Com o efeito do tempo indeterminado, você perderia a sua consiência de si mesmo. Você não teria mais as suas manias, seus movimentos, suas idiossincrasias. Você não lembraria mais seu nome ou a sua história. Você não se reconheceria mais como um daqueles indivíduos. Por fim,  sem referências, você também deixaria de ser capaz de se perceber.
     Precisamos do outro para sermos quem somos. Precisamos nos conectar para que possamos nos ver. Aparentemente conexão contrasta com significância, mas uma depende da outra. O que a pessoa invisível desse mundo de pesadelo descrito a pouco realiza é uma ilustração de como provavelmente a nossa mente reagiria á uma anulação completa de sua significância perante os outros seres humanos. Estaríamos motivados por buscar conexão. Nossa finalidade com esta seria  nos encontrar no olhos dos outros. Isso resultaria em não haver mais diferença entre o que se é e o que se não é. Não teríamos uma identidade. 
     Nós nos conectamos quando podemos ver e ser vistos. Não precisamos de palavras para nos comunicar. Nossos códigos servem para nos colocar em contato com a realidade de que as outras pessoas estão conscientes em determinado momento. Por realidade, entenda-se apenas aquilo que se percebe. Se eu te vejo, estou consciente. Se você me vê, eu existo. Se nós nos percebemos mutuamente, estamos conectados. 
     O toque é o exemplo mais vívido do que se sucede. Com ele, você e o outro têm a noção de suas fronteiras de identidade, ao mesmo tempo que formam uma unidade que coopera. Em uma simples experiência imediata, pode-se experimentar a plenitude. Basta entregar-se à experiência simples da percepção. Nós costumamos banalizar o contato, as interações e comunicações que temos com as outras pessoas. Isso é perfeitamente natural como maneira de não nos perdermos em emoções, experimentando um afogando em mar revolto. Porém, muitos de nós acabam por se acostumar a fechar a porta da conexão, guardando oportunidade apenas para aquela que não pode ser evitada. Faz-se isso por medo de parecer emotivo ou medo de perder o controle. Conectar-se é uma habilidade. Depende de competência. Quem não a pratica, não se aperfeiçoa, acaba por ser menos capaz de saber com segurança quem é de verdade. 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A genialidade dentro de cada um


O que leva alguém a se dedicar tão apaixonadamente por uma atividade a ponto de se tornar um gênio, um virtuose?

O talento é algo a ser dismistificado. A visão de que se nasce predisposto a ser competente em alguma coisa é um mito. Há que se dizer que fatores físicos como a altura para quem joga basquete ou voleibol, a beleza para quem é modelo, o tipo de voz para quem canta, todos contribuem muito para efeitos específicos. Porém, será que características como essas são parte do que se entende por talento ou seriam apenas condições favoráveis? É possível se chegar ao auge de uma habilidade sem praticar, ou seja, somente devido a algum determinismo genético?

O desenvovimemto de uma competência depende de esforço. Desenvolver-se ao nível virtuose depende de muito esforço mesmo! Muitas vezes se confunde esforçar-se com sofrer, sendo esta é a raiz da mediocridade. Seria absolutamente incoerente se crer que exista genialidade sem paixão ou arte sem emoção. O componente mais importante que poderia compor um conceito efetivo de talento seria a capacidade de se entreter, de interessar, de se apaixonar pela atividade que se pratica. Assim, seria possível cada vez mais estar se divertindo enquanto se intensifica o autodesafio e se dedica às horas de trabalho necessárias à excelência. 

Quem observa um praticante dedicado a caminho da maestria verifica apenas uma pessoa se esforçando. Muitas vezes, de fora, a percepção que se tem é de que a pessoa que está ali está apenas usando força de vontade. Porém, ao se parar para pensar, as pessoas praticam seus esportes nos fins de semana, em que correm, suam, esforçam-se e se divertem. Muitas vezes elas acordam cedo, por exemplo para praticar surfe ou jogar futebol com os amigos. Por acaso elas estão tendo de usar força de vontade do início ao fim, crendo que estão se obrigando a fazer algo que "não" lhes dá prazer ou recompensa? Será que sequer há se falar em força de vontade nestes casos? Para se começar a compreender a capacidade de se esforçar rumo à genialidade, basta dar início a perceber-se quando se está nesses momentos de lazer. Então, metade do caminho estará concluída. A outra se encontra no conceito de clareza de propósito. Enquanto o lazer encontra um fim em si mesmo, a excelência o direciona para um objetivo. Organizar objetivos em função de um resultado global é definição genérica de estratégia. Um gênio com uma estratégia geralmente é bem reconhecido como referência de sucesso.

A esta altura pode-se estar questionando se a força de vontade não seria relevante e se quem se torna gênio não encontra sofrimento em seu amadurecimento. A resposta é negativa para ambas as questões. O diferencial da genialidade está em como o futuro gênio encara seus momentos de estar sofrendo e para que fim ele dirige sua força de vontade. Ele vê a dor que sente como algo a resolver e procura tornar-se mais eficiente em seu método, visando eliminá-la. O resultado sempre acaba sendo uma autosuperação, pois ele acaba por aprender a gostar mais ainda do que faz consistentemente. A força de vontade é absolutamente necessária, pois ele depende dela para não desistir enquanto não tiver aprendido a como não sofrer. 

Seguindo esta lógica, é fácil se inferir que qualquer um poderia se tornar um virtuose em qualquer atividade. Não se pode contrariar esta idéia após os termos dados. Entretanto, nem tudo que é possível necessariamente possui mérito relevante. Os seres humanos escolhem suas atividades por conveniência e oportunidade. Tanto o interese direto quanto a facilidade de condições para obter sucesso direcionam a escolha da atividade que se opta por desempenhar. Fora isto, há a pressão social, que nega este interesse legítimo. Quantas crianças e jovens escolhem esportes, carreiras e atividades apenas para atender a expectativas de seus pais? Quantos não se envolvem em atividades apenas para se adequar a grupos sociais? Estas razões afastam os indivíduos de seus verdadeiros interesses e paixões. Portanto,  possuir uma capacidade de compreender os próprios motivos para tomar decisões é fundamental ao inventário de um gênio, sem a qual não se possui senso de certeza e se acaba por desistir na primeira crise de identidade: "Será que é isso que quero ser?"

A figura o gênio é ao mesmo tempo super-valorizada e sub-valorizada. Expectadores vêm figuras que ostentam resultados de suas estratégias e concluem que aquelas são as personificações da genialidade. Experimentam alegria e paixão por idéias, atividades e sonhos, mas os deixam de lado por medo de fracassar. O sucesso é apenas o conjunto de efeitos de uma estratégia desempenhada com eficácia. A genialidade ajuda, mas não é seu sinônimo. Não é necessário genialidade para se ter eficácia, basta apenas se alcançar determinadas metas para isso. Por que não se praticar a própria genialidade sem pensar em sucesso? Depois que se é virtuose, digno de se expressar no estado da arte em cada realização, têm-se um motivo legítimo para se pensar em estratégia. Obter eficácia é possível para qualquer um, mas o sucesso que o gênio encontra é só para quem encontrou seu verdadeiro caminho.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O segredo da atitude positiva


Reatividade é uma coisa chata! Uma pessoa "reativa" pode ser tão influnte quanto uma tão aclamada "proativa". Conviver com pessoas que se comportam de maneira reativa pode ser tanto irritante para quem identifica esse traço, quanto um problema sério para quem não faz a distinção. 

Quem "apenas" reage não percebe, somente sente. Desrespeita sem perceber. Age sem autenticidade. Não faz escolhas. Não se dá conta sequer do efeito de seu próprio comportamento na realidade, que dirá dos desdobramentos. Pessoas se comportando assim são na maioria das vezes extremamente educadas. Suas condutas seguem um padrão socialmente irrepreensível, sendo aí onde fica a raiz do problema. Agir conforme o que se está habituado significa dizer que se está agindo sem pensar, sem prestar atenção. Não há problema algum em fazer algo sem pensar, mas há sim em fazer a mesma coisa sem querer. 

Quem não reconhece em si ou em vários dos que convive discursos recheados de máximas como "eu sou assim", "não posso fazer nada", "fulano me deixa louco", "isso jamais será aceito", "tenho de fazer isso", "não posso", "Eu preciso.", "Ah, se eu pudesse..."? Tudo isso está ligado a uma necessidade de afirmar certeza sobre uma identidade que a própria pessoa não escolheu livremente. Esse mundo moderno provoca esse tipo de coisa. Todas as observações críticas sobre mudanças descontínuas, competitividade, excesso de informações, convergência, tudo se aplica como fatores que geram pressão sobre o indivíduo. Por outro lado, não é novidade esta própria pressão em si. Basta procurar estórias interessantes como "O Espremedor de Colhões" de Charles Bukowsky, músicas como "Ouro-de-tolo" de Raul Seixas com Paulo Coelho, que se pode fazer idéia do quanto esse efeito é bem antigo.

Uma sociedade precisa de uma estrutura. Esta consiste de pessoas desempenhando tarefas. Em uma pequena tribo, caso ninguém caçe, pesque, plante ou colete, todos morrem de fome. Em clãs, aldeias, cidades, metrópoles e nações, as teias são mais complexas e as necessidades vão bem além da simples alimentação e similares básicos. Ainda assim é preciso existir uma "força" que crie propensão de que cada indivíduo escolha um papel a desempenhar dentro da estrutura social. Se não houvesse nada nesse sentido, não haveria coesão social. Não haveria civilizações. Os humanos viveriam como tigres, se encontrando apenas na hora de procriar. Um tigre tem garras, presas, muita força e agilidade, faro aguçado e um sistema imunológico mauito mais potente que o de um humano. Sem competências para se comunicar razoávelmente bem e se estruturar em sociedade, o homem estaria extinto há muito tempo. Provavelmente comido por tigres e afins. 

A separação em "rótulos", reativo ou proativo, serve para simplificar o entendimento de um tipo de hábito que uma pessoa possui em relação à forma de responder aos estímulos que recebe no dia-a-dia. Ninguém pode ser classificado como totalmente proativo ou totalmente reativo. Além disso, como já se pode deduzir, há hábitos tanto bons quanto ruins. Aquele que se refere à "reatividade" diz respeito apenas a se estar viciado em executar uma rotina sem ter escolhido realizá-la. A proatividade, por outro lado, de forma alguma pretende negar um hábito, mas sim escolher conscientemente o motivo pelo qual se está o executando. 

O hábito é uma forma que a evolução encontrou de tornar o cérebro mais eficiente. O mecanismo mais lento e que mais consome energia cerebral se dá no neocórtex. Esta parte localizada sob a testa é onde simbolicamente se segura com as mãos as idéias e experiências. É onde é feito o raciocínio e onde são tomadas as decisões. Naturalmente, é a evolução mais recente do cérebro. Se tudo o que uma pessoa faz tivesse de passar por ali, não seria possível sequer mover um dedo sem ter de parar de respirar no processo. Tudo aquilo que se faz repetidamente acaba por ser armazenado em uma parte específica, no córtex interior, que cuida de processos de maneira independente. O que é hábito não precisa "ser pensado" novamete. Quem aprendeu a dirigir compreende muito bem isso. Funciona como um "piloto-automático". Não é necessário se concentrar em cada ação, elas simplesmente fluem naturalmente.

A cultura chinesa é muito focada neste tipo de prática. Eles consideram o efeito de se praticar este exercício uma espécie de competência, que vai bem além do mero termo "proativo". O que os chineses denominam 功夫 não possui uma tradução oficial. O ideograma 功 representa a ação consistente de medir o próprio esforço, enquanto que  representa o homem amadurecido por este processo. Expressões como "excelência humana" ou "desenvolvimento humano" são informalmente utilizados para expressar tal conceito. Ora, se praticar algo com consistência torna a respectiva atividade um hábito, o próprio ato de se "fazer a escolha" sobre o que se habituar e quando utilizar o processo programado pode ser considerado um hábito em si. 

A atitude por trás desta prática assume apenas dois conceitos, o de assumir responsabilidade e o de procurar pelo que ser grato. Apesar de simples, é literalmente impossível ser plenamente efetivo nestes resultados. Pode-se ser eficaz, mas no instante seguinte uma nova situação pode transformar um sábio em um tolo. A postura de aprendiz que os pensadores orientais tanto comunicam em suas obras é respectiva a isto.

Uma pessoa com sua proatividade desenvolvida, com seu 功夫 trabalhado o suficiente, é segura de si. Sendo assim, ela não tece opiniões sobre si mesma, apenas é. Jamais usa em seu discurso a expressão "eu sou assim", mas no llugar desta usa "eu escolho e valorizo agir desta maneira, nesta situação". Ela não diz que pode ou não pode, precisa ou não precisa fazer determinada coisa. Ela diz que escolhe ou prefere uma coisa a outra. Ela não está presa em uma ilusão determinística condicionada por medo e vergonha. 

Esta idéia de atitude livre e plena não existe naturalmente, nem se perpetua sem esforço deliberado constante. Porém, é uma meta estratégica, ou objetivo último, que jamais deveria sair dos planos de qualquer um. Entre um estímulo e uma resposta há uma oportunidade de escolha. Ser reativo diz respeito apenas a não aproveitá-la. Nossa estruura social ainda depende muito de transformar pessoas em "massas-de-manobra". Porém, esse velho costume não passa de uma forma de fazer com que as pessoas sejam menos motivadas e consequentemente menos produtivas do que poderiam ser, embora facilite o controle nas relações de poder. Este acaba sendo também uma forma de fazer com que elas sejam menos afortunadas e felizes, pois se habituam a se conformar com menos do que poderiam ser e a entregar menos que o quanto poderiam contribuir. Assumir uma atitude positiva não é nenhum mistério dos monges chineses, basta fazer a primeira escolha, depois jamais cessar de fazê-la. 

O mestre age sem dizer nada e ensina sem dizer nada. Ele tem, mas não possui. Age, mas sem expectativas. Quando as coisas vêm, ele as deixa vir. Quando elas vão, ele as deixa ir. Quando seu trabalho está feito, ele o esquece. Assim, ele dura para sempre. (Laozi - Tao Te Ching)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Valentim foi garfado pelo cupido


Hoje é o dia de São Valentim. Não existe carnaval em vários países do hemisfério norte, como EUA e Canadá, por isso o dia dos namorados é posicionado nesta data por lá. Esse dia é escolhido nesse intervalo para motivar o consumo em uma época do ano que seria fraca para o comérico em geral. Aqui no Brasil, o dia dos namorados cai em 12 de junho, definitivamente seguindo a mesma lógica. 

Já a história do santo vem de um boato que corre na boca pequena. Um tal imperador Romano Claudio II (Marcus Aurelius Claudius  214 D.C — Sirmium(Bálcãs), 270 D.C) teria baixado uma lei que proibia os jovens de se casarem, afim de assim formar um exército mais motivado, capaz de viver na guerra sem querer desesperadamente voltar para casa. Um bispo romano chamado Valentim achou isso um abuso autoritário e resolveu casar as pessoas na surdina. Obviamente pegaram ele no flagra e o sentenciaram à morte.           

Naquela época a igreja não era tão cheia de posses como foi ficando pela idade média, por isso não havia celibato obrigatório para membros do Clero. Valentim era solteiro e, caso viesse a desejar, poderia se casar eventualmente. Claro, isso se não fosse ser executado. Enquanto esperava pela execussão em sua cela, a filha do carcereiro foi visitá-lo, no intuito de assegurar-lhe de que "os jovens ainda acreditavam no amor". Como é preciso uma doença ou condição permanente seguida por uma respectiva cura milagrosa para que alguém vire santo na Igreja Católica, a moça desta estória chamada Astérias era cega e passou a enxergar depois de algumas visitas ao bispo. Ainda mais milagrosamente, além desta "moça" ter começado a ver, parece que aprendeu a ler em tempo recorde também, pois segundo a lenda, ela teria recebido uma correspondência amorosa do bispo que terminava com o famoso verso "... do seu Valentim." A igreja hoje não reconhece esse conto como história oficial, nem o santo, alegando que não encontrou evidências históricas suficientes. 

Para criar uma data e criar um costume de fato, não se pode deixar faltar um personagem bem simbólico. Nada melhor que a mitologia grega para colocar magia na coisa! O Cupido, aquela figurinha angelical bem conhecida, era o deus equivalente romano do deus grego Eros. Ele seria o filho da deusa da beleza, Vênus, e do deus da guerra, Marte. Diz-se que ele andava sempre com seu arco, pronto para disparar flechas tanto sobre os corações de mortais e quanto sobre os de divindades. Ele teria tido um romance muito famoso com a princesa Psiquê, a chamada "deusa da alma". 

A mensagem dessa data fica bastante interessante, misturando-se tudo até ficar homogêneo. De um lado, um sacerdote rebelde e bondoso sentenciado a morte, com sua paixão não resolvida pela moça que apaixonou-se por ele após "poder enxergá-lo" depois de conviver a sós com ele por algumas oportunidades. De outro, um mito, símbolo do Amor, do erotismo, fruto bastardo da divindade representante essencial da beleza com o deus da guerra. Vênus seria esposa de Vulcano, o deus manco, tendo pulado a cerca com Ares para conceber o "anjinho" cupido. 

Segundo essas histórias:

1) Parece que o homem que se sacrifica a vida toda unindo casais apaixonados jamais é "visto" pela mulher que ele mesmo estará apaixonado, até que esteja definitivamente "ferrado de vez". 

2) Parece que o cupido não passa de um filho de uma vadia, pistoleira, acostumada a ser bajulada demais por ser bonita, que corneou o marido dando para o macho mais agressivo e viril que encontrou.

Logo, deixemos as moças aprenderem a conviver com a cegueira delas, os marmanjos irem à guerra desempedidos e, caso avistemos um anjinho com arco na mão, a gente abate, toma as flechas e as atira na mãe dele.