The Shadow Hunter

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Keep it Simple

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Conecte-se e torne-se quem você é.


Há um limite claro entre aquilo que é você e o que não é. Pode parecer um daqueles pensamentos profundos e transcedentais, mas não há nada demais nesta constatação. Oficialmente, você é apenas aquilo que vai do centro do seu corpo à extremidade da sua pele. 
    Você tem acesso relativamente consciente à todas as pertes que estão no seu denominado corpo. Algumas delas você consegue perceber e controlar. Outras, você controla, mas não percebe. Ainda há aquelas que você nem controla, nem percebe. Só por acompanhar este raciocínio, só por imaginar, você já está executando um processo de metacognição. Você está pensando sobre si mesmo e sobre seu próprio pensamento. Essa capacidade é dita como sendo exclusiva do ser humano. O efeito em usá-la resulta na consciência que você tem de ser você mesmo. 
     Nós somos seres complexos. Vamos muito além da mera sensação de se morar sob a pele de um primata humanóide. Temos essa coisa complicada que chamamos "personalidade", munida de milhares de características, traços, idiossincrasias... Essa consciência do que é você e do que não é muito mais complicada que a fronteira demarcada pela sua pele. 
     Imgine-se no meio de uma multidão, só que invisível, inaudível, intocável, ou seja, totalmente imperceptível. Como seria a sua experiência? Você ainda toca o solo com os seus pés. Sente o vento. Ouve os sons dos elementos. Porém, não pode ouvir as pessoas . Pode apenas vê-las. 
     No início, você vai se sentir em um joguo de videogame, curtindo uma realidade virtual e quem sabe até um voyeurismo. Peço para que extenda o tempo para um prazo indefinido: dias e noites consistentemente convivendo, mas sem existir para os outros seres humanos. Você consegue imaginar como seria? 
     Essa sim é uma pergunta difícil. A primeira idéia é adicionar a informação de que a não responsividade das pessoas a você te habituariam a se comportar de determinada forma. Enquanto estivesse no videogame, ainda estaria preso à realidade normal, não a este mundo caótico, sobrenatural, criado para te entreter e intrigar. Depois de alguns dias, quando a novidade passasse, alguma coisa iria te incomodar. Você não saberia o que é, mas seria patente. Sua atenção à cada passo, gesto, palavra de cada pessoa iria se intensificar. Sua mente iria começar se fazer a pergunta de "como dizer a eles que eu estou aqui?". Provavelmente você começaria a orgnizar os objetos e deixar pistas para que eles pudessem concluir que há alguém que não pode ser percebido tentando se comunicar. Você começaria a ficar angustiado, irritado e teria crises de asiedade por algum tempo. Depois estas crises passariam e você então começaria a se divertir imitando cada pessoa. Faria isso por muito tempo. Aprenderia a imitar cada vez melhor, modelando-as. Comporia um acervo em sua mente de todo o tipo de mania, gesto, movimento, idiossincrasia que pudesse reproduzir. A esta altura você deve estar se perguntando por que faria isso. A resposta é simples: seria a forma mais eficaz que encontraria de obter a sensação de que está se comunicando. Você estaria apenas tentando ver o mundo pelos olhos das pessoa que não te percebem, tentando agir como elas, ver como elas, compreender como se sentem e o que expeimentam. Com o efeito do tempo indeterminado, você perderia a sua consiência de si mesmo. Você não teria mais as suas manias, seus movimentos, suas idiossincrasias. Você não lembraria mais seu nome ou a sua história. Você não se reconheceria mais como um daqueles indivíduos. Por fim,  sem referências, você também deixaria de ser capaz de se perceber.
     Precisamos do outro para sermos quem somos. Precisamos nos conectar para que possamos nos ver. Aparentemente conexão contrasta com significância, mas uma depende da outra. O que a pessoa invisível desse mundo de pesadelo descrito a pouco realiza é uma ilustração de como provavelmente a nossa mente reagiria á uma anulação completa de sua significância perante os outros seres humanos. Estaríamos motivados por buscar conexão. Nossa finalidade com esta seria  nos encontrar no olhos dos outros. Isso resultaria em não haver mais diferença entre o que se é e o que se não é. Não teríamos uma identidade. 
     Nós nos conectamos quando podemos ver e ser vistos. Não precisamos de palavras para nos comunicar. Nossos códigos servem para nos colocar em contato com a realidade de que as outras pessoas estão conscientes em determinado momento. Por realidade, entenda-se apenas aquilo que se percebe. Se eu te vejo, estou consciente. Se você me vê, eu existo. Se nós nos percebemos mutuamente, estamos conectados. 
     O toque é o exemplo mais vívido do que se sucede. Com ele, você e o outro têm a noção de suas fronteiras de identidade, ao mesmo tempo que formam uma unidade que coopera. Em uma simples experiência imediata, pode-se experimentar a plenitude. Basta entregar-se à experiência simples da percepção. Nós costumamos banalizar o contato, as interações e comunicações que temos com as outras pessoas. Isso é perfeitamente natural como maneira de não nos perdermos em emoções, experimentando um afogando em mar revolto. Porém, muitos de nós acabam por se acostumar a fechar a porta da conexão, guardando oportunidade apenas para aquela que não pode ser evitada. Faz-se isso por medo de parecer emotivo ou medo de perder o controle. Conectar-se é uma habilidade. Depende de competência. Quem não a pratica, não se aperfeiçoa, acaba por ser menos capaz de saber com segurança quem é de verdade. 

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